Pesquisadores da Ufam produzem ecotelha a partir de fibras amazônicas

Protótipo será concluído em um ano, diz pesquisador

Fruto de mais de uma década de pesquisas, a telha ecológica é um produto com a marca da sustentabilidade. Na composição, aparecem fibras amazônicas, como a malva e a juta, associadas a resíduos cerâmicos e pequena quantidade de cimento. A inovação está vinculada ao Programa de Pós Graduação em Ensino de Ciências (PPGEC) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
O trabalho envolve quatro estudantes do Mestrado em Engenharia Civil e um graduando em Administração. O coordenador da equipe, professor João de Almeida, destaca que essa ideia originou uma empresa aprovada pelo Programa Sinapses da Inovação/Amazonas. O protótipo da telha ondulada será concluído em um ano, mas a produção em escala comercial dependerá do investimento de patrocinadores.
Cada vez mais, a sociedade exige atenção das empresas aos produtos sustentáveis. “O grande desafio para esse nicho está na composição da telha que, em geral, utiliza como base cimento e fibras minerais tóxicas”, diz o docente, ao falar sobre o produto atualmente comercializado. Há, por outro lado, pressão governamental para proibir o uso de insumos potencialmente cancerígenos leva os fabricantes a buscar formas sustentáveis de produção, minimizando os impactos ambientais.
O professor destaca a função da Universidade como local para o desenvolvimento de tecnologias inovadoras: “A Ufam é um grande centro de pesquisa na Amazônia Ocidental. Há diversos pesquisadores que trabalham com afinco, e a relevância está em mostrar ao mundo que aqui se faz pesquisa com muita seriedade e dedicação”.           
Durante os cursos de Mestrado e Doutorado, o professor João de Almeida já vinha desenvolvendo estudos com as fibras utilizadas para a produção da ecotelha. “Ao longo de mais de dez anos, foram realizados testes no que chamamos de ‘material compósito’”. O objetivo foi avaliar a resistência que alcançaria o produto final, e o processo específico que incorporou as fibras nativas ocorreu nos últimos três anos.
Há pelo menos três diferenciais na telha produzida pela equipe. O primeiro é do ponto de vista ambiental, tendo em conta que o produto em elaboração apresenta menor quantidade de cimento na composição. “Há apenas ¼ desse material, e isso contribui para reduzir a quantidade de carbono no processo”, destaca o docente.
Outro diferencial é o econômico, conforme salienta o pesquisador: “Com o uso de fibras regionais, portanto de produção local, buscamos reduzir os custos de produção e impactar no preço final do produto, sendo mais um ponto positivo na relação custo/benefício”. Ainda nesse aspecto, a produção que utiliza insumos locais elimina emissões de poluentes que decorreriam do transporte de matéria-prima de longa distância, sendo também uma vantagem ambiental.
Professor destaca os diferenciais do produto

O terceiro fator de destaque da ecotelha é o social. Quando as comunidades locais são demandadas para o fornecimento das fibras usadas no processo, elas passam a fazer parte do ciclo de desenvolvimento, tornando-se, micro-produtoras de valor fundamental nessa cadeia. “A ideia é gerar renda também para estas pessoas”, observa o idealizador do projeto.
Os custos da produção em larga escala ainda estão em fase de contabilização, pois a telha sustentável criada pela equipe será um protótipo. “O fomento via Sinapse da Inovação e Fapeam será fundamental para que esses questionamentos sejam respondidos até a conclusão do projeto”, informa o coordenador.
Sobre o valor de mercado, ela deverá levar em conta não apenas o preço de venda, mas, sobretudo, o custo/benefício. “O uso de insumos regionais, o emprego reduzido de cimento (apenas 25% do total) e outras componentes físico-químicas serão os aspectos considerados”, elencou o pesquisador João de Almeida.
“Para nós, que trabalhamos com ciência e tecnologia, é dever transformar os conhecimentos em melhoria para a vida das pessoas, sejam elas do ambiente urbano, com construções que utilizam materiais sustentáveis, ou do ambiente rural, que recebe mais renda e qualidade de vida”, conclui, sobre a contribuição social do trabalho.

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